Se existem derrotas que valem mais que vitórias, o Brasil experimentou o sabor de uma delas nesta segunda-feira. Após duas atuações apagadas contra os fracos Irã e Tunísia, a seleção de Rubén Magnano se agigantou – e logo contra os Estados Unidos. Perdeu o jogo, mas ganhou moral. Vestindo verde e se agarrando à esperança o tempo todo, a equipe virou o primeiro tempo na frente, manteve o placar apertado até o fim e só viu a vitória escapar na última bola. No banco, o carrasco Rubén Magnano quase beliscou mais uma em cima dos craques da NBA. Desta vez não deu, 70 a 68. Mas foi, com sobras, a atuação que o Brasil perseguia para recuperar a confiança.
Após o alívio de segunda-feira, a seleção ganha uma merecida folga na terça e só volta à quadra na quarta, para enfrentar a Eslovênia. Aí, sim, começa para valer a briga por posições no grupo B. A primeira fase termina na quinta, contra a Croácia. Os quatro primeiros se classificam para as oitavas de final.
Durante o aquecimento, o armador Russel Westbrook dançava após cada bandeja. Kevin Durant era mais comedido que seu companheiro. Olhava Anderson Varejão fora da quadra e parecia imaginar que, sem o ala-pivô do Cleveland Cavaliers, encontaria do outro lado uma equipe fragilizada. Enganou-se. Um Brasil atento, preciso no ataque e na defesa e com postura de vencedor mostrou a sua cara. Fez o que nenhuma outra seleçao da chave conseguiu: virar o primeiro quarto na frente dos americanos (28 a 22).
Quem achava que já era o suficiente se surpreendeu com o segundo período. Assustados, os americanos não conseguiam pôr em prática os contra-ataques que até então tinham sido letais. A marcação brasileira fechava a porta e só Kevin Durant ousava tentar passar por ela. A jovem estrela carregava o time nas costas e ouvia a arquibancada pedir por defesa depois que a diferença chegou aos oito pontos (33 a 25).
Na metade do segundo quarto caiu para um, após um breve momento de desatenção que levaou a erros bobos de passe. Nada que não pudesse ser recuperado por Marquinhos, com a mão certeira da linha de três. Que não pudesse ser resolvido por Splitter, gigante nos dois garrafões. Com a pontuação bem distribuída, os comandados de Magnano sobraram e conseguiram o que soava impossível: foram para o intervalo carregando uma vantagem de 46 a 43.
O estrango era tamanho que o técnico Mike Krzyzewski se levantou da cadeira, abandonou o temperamento zen e reclamou muito com sua equipe. O Brasil continuava ditando o ritmo e isso o incomodava. Durant e Derrick Rose trataram de acalmar o chefe. Foram eles que colocaram os Estados Unidos na frente: 52 a 50. Magnano pensava rápido, coçava a cabeça e chamava Alex para o jogo, já que Huertas estava pendurado com quatro faltas, mesma condição de Splitter. O time sentiu o golpe com a saída do armador. Em uma sequência sem sucesso de arremessos longos, deixou o adversário escapar (61 a 55). Por pouco tempo. Leandrinho tomou a iniciativa e diminuiu ao fim do terceiro período: 61 a 59.
Antes da volta para os últimos dez minutos, uma pane no placar colocava os americanos na posição confortável que vinham encontrando no torneio: 61 a 0 a seu favor. Era só um erro tecnológico. Ao fundo, a trilha sonora parecia ter sido escolhida a dedo para os brasileiros.
Tocava I got a feeling, do Black Eyed Peas, prevendo o sentimento de uma noite boa Istambul. Durant começou a errar lances livres. Marquinhos acertava mais uma de três e ganhava vaias como resposta.
Os americanos tinham mais um ataque e dois pontos de frente. Erraram. Restando 7s, com a Abdi Ipekci de pé, Huertas partiu para a cesta, sofreu falta e a bola caprichosamente bateu no aro e não caiu. A 3s, ela chorou de novo no primeiro lance livre. Ele errou o segundo de propósito para aproveitar o rebote, mas Leandrinho, bem marcado, não conseguiu converter os pontos que dariam o empate. Fim de jogo. Os americanos aplaudiam, e no centro da quadra os brasileiros se abraçavam, certos do dever cumprido.
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